O movimento religioso do Santo Daime teve início na Floresta Amazônica, nas primeiras décadas do século XX, com o neto de escravos Raimundo Irineu Serra. Foi ele quem recebeu a revelação de uma doutrina de cunho cristão, a partir da bebida Ayahuasca (vinho das almas), denominada Santo Daime.
A bebida, de uso bastante difundido pelos povos indígenas da região, é obtida pela coccão de duas plantas, nativas da floresta tropical. De acordo com membros deste movimento religioso, ela tem propriedades enteógenas, isto é, produz uma expansão de consciência responsável pela experiência de contato com a divindade interior, presente no próprio homem, dentro de um contexto ritual tido como sagrado que prega o amor pela natureza e consagra o mundo vegetal e todo o planeta como sendo o cenário sagrado da nossa mãe-terra.
A Revista Veja (nº 12, edição 2157) veiculada hoje, 20/03/2004, traz estampada em sua capa a seguinte chamada: O Psicótico e o Daime. O título se refere à uma reportagem traduzida aproximadamente em dez páginas, onde a Veja diz: “atenção para o risco de exageros quando se pratica a tão desejada tolerância”_ fazendo menção ao ritual do Santo Daime.
Meus irmãos, que tolerância é esta da qual a Veja nos fala? Tolerância hipócrita? Tolerância preconceituosa? Tolerância intolerante? Quero abrir aqui uma profunda reflexão a respeito de algumas coisas, pois me sinto absolutamente intolerante quanto à intolerância, por mais redundante que seja.
Voltemos à reportagem. Como de conhecimento nacional, o cartunista Glauco e seu filho Raoni, ambos fundador e membro, respectivamente, da Igreja Céu de Maria (Santo Daime), foram assassinados por Cadu, um jovem esquizofrênico _ conforme afirmação do próprio pai do criminoso confesso.
A Veja se propõe, na matéria veiculada, à levantar suspeitas sobre o grau de comprometimento do Santo Daime no crime ocorrido, uma vez que o assassino era membro desta religião. Como pode haver um contra-senso tão grande? As vítimas agora serão os responsáveis pelo crime que os limitou à vida por conta da fé que professavam?
Cadu apresentou um surto psicótico, como já dantes acometido do mesmo distúrbio por diversas vezes (desde 3 anos atrás), e lançam a pensar que a bebida ingerida por ele no culto ao Santo Daime seria a vilã desta estória? O assassino ingeriu a bebida pela última vez no reveillon!
Ao ler esta matéria o movimento religioso questionado é a todo instante tratado como seita e não como religião. Tudo bem, seita é qualquer doutrina que se afaste da opinião geral em dado momento. Provavelmente assim o Cristianismo foi uma seita que dissidiu da religião judaica. O que não pode haver é a correlação da expressão com práticas condenáveis, porque, pelo sentido próprio da palavra, no Brasil quase todas as religiões são, portanto, seitas.
Adendos à parte... A Veja ainda afirma que foi um “erro” do CONAD liberar o chá daimista para fins religiosos. Intolerância presente em cada frase discursada, está também a Umbanda referenciada no artigo, porque também há um movimento religioso intitulado Umbandaime que se serve dos rituais litúrgicos da Umbanda e do Santo Daime.
Independente disto, irmãos, como podemos nos calar diante de tanto preconceito que acaba gerando confusões e subvertendo a ordem natural até mesmo das condenações criminosas, mesmo que de forma apenas consciencial??? Até quando vamos ter que conviver com esta intolerância, que a Veja em contrapartida acha que é uma “tolerância exagerada”???
Também encontramos nos Terreiros de Umbanda o uso de álcool, que não é droga ilícita, que deve ser usada com moderação, que não tem qualquer relação com o profano, que pode ser (ou não) ministrado na liturgia de acordo com o entendimento de cada sacerdote, mas que não pode ser proibido simplesmente porque algumas pessoas acham que não é certo, sem nem mesmo conhecerem os fundamentos da religião!!!
Toda essa controvérsia acaba sendo gerada pelo uso errado que as pessoas fazem das bebidas alcoólicas nas suas vidas particulares. Pois as pessoas que não entendem os fundamentos da Pajelança, do Xamanismo, da Umbanda, do Santo Daime, querem rotular de errado uma prática que favorece a liturgia de comunidades em prol de fraternidade e da evolução espiritual.
A bebida inclusive está presente em várias religiões deste a época antiga. Tem referência até na mitologia grega, com Dionísio, o Deus do vinho. Também Jesus, que compartilhou o vinho em várias ocasiões. Nunca vi ninguém falar nada a respeito de qualquer padre, que tenha cometido um crime, questionando sobre a influência que o vinho exerce no comportamento das pessoas.
Usei o fato apenas como exemplo, pois não fazemos qualquer tipo de discriminação, só que o Catolicismo enquanto religião majoritária no Brasil realmente não sofre as opressões que muitas religiões sofrem. Isto é um fato e é absurdo!
A Veja, em sua capa, diz “Até que ponto se justifica a tolerância com uma droga alucinógena usada em rituais de uma seita?” A saber, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad) retirou a ayashuca da lista de drogas alucinógenas e não há comprovação científica que descreva a ação profunda da bebida do Daime no cérebro, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.
Por favor, irmãos, saibam que na Umbanda o álcool, quando utilizado, serve para:
- auxiliar no desfazimento de energias negativas impregnadas no perispírito
- representar o elemento fogo, em estado líquido, pela facilidade de combustão
- visualizar ou tratar o organismo físico após magnetização
- limpar e desinfetar regiões do corpo físico, porque é anti-séptico
- propiciar certo entorpecimento das faculdades mediúnicas em auxílio à manifestação das entidades
- auxiliar nos trabalhos magísticos porque contém energia
Enfim, irmãos, para tudo há um fundamento, uma explicação. Ao apontarmos o dedo para alguém estaremos sempre sendo julgados também. Não aceitem a intolerância. É injusto. É cruel. É feio. É sujo.
Que todo elemento magístico seja usado com consciência e que sejam potencializados seus efeitos energéticos, catalisadores, descarregadores e reequilibrantes, pois iremos precisar de muito mais força, para enfrentarmos este mundo frio e conseguirmos, com fé, torná-lo mais humano e mais fraterno.
Pedimos aos Orixás, Guias e Amigos Espirituais que ajudem, na medida do merecido e possível:
*ao jovem Cadu que cometeu os crimes, para que possa reestabelecer seu equilíbrio mental
*aos jornalistas Kalleo Coura e Renata Betti, para que possam ser mais tolerantes
*à família das vítimas, para que tenham forças e entendimento para compreenderem este momento
*aos membros do Santo Daime, para que continuem professando sua fé com dignidade e confiança
*à nós, povo umbandista, para que tenhamos sabedoria e saibamos defender a liberdade religiosa como uma questão de cidadania
Axé, saravá, motumbá, mucuiú, anauê!!
Eles aproveitaram este acontecimento para focar na religião quando deveriam na verdade buscar mais a fundo. A morte do Glauco está muito mais relacionada à falta de parâmetros de formação de personalidade do que ao uso do Santo Daime.
ResponderExcluirChapman era fã dos Beatles e matou John porque queria ser ele.O que isso tem a ver com o caso do Glauco e de sua religião? Próprio Lennon falou: "O Cristianismo vai desaparecer. Vai diminuir e encolher. (...) Nós, Beatles, somos mais populares do que Jesus neste momento. Não sei qual vai desaparecer primeiro - o rock and roll ou o Cristianismo. Cristo não era mau, mas os seus discípulos eram obtusos e vulgares. É a distorção deles, que estraga o Cristianismo para mim."
Poder, poder e mais poder. Os homens se matam por poder. Cadu queria ser Glauco. Chapman queria ser Lenonn. E a imprensa? A imprensa manipulada tende a distorcer informações àqueles que buscam um encontro com o Divino, não buscam a verdade em si.Precisamos é aprender a pensar e antes de pensar analisar todos os fatos...
Otimo!
ResponderExcluirA revista Veja é uma ferramenta comercial que precisa de matérias chamativas para vender e como o assassinato do Cartunista e seu filho está em voga eles estão aproveitando o momento para que seu balancete no final do mês seja altamente positivo.
ResponderExcluirInfelizmente é difícl ver nos jornalistas a imparcialidade nos julgamentos dos fatos. O que importa pra eles? É o seu crescimento dentro do ambiente de trabalho. É a sua remuneração. É a sua ambição atiçada.
Ontem mesmo (domingo) na Record a matéria sobre o assunto era toda focada para o problema do uso do chá e entrevistaram mais uma mãe que disse que seu filho suicidou-se depois de entrar para a Seita do Santo Daime, mas a reportagem não entrevistou nenhum psicóloco, psiquiatra, médicos ou espiritualistas. Focaram somente no que o pai do Cadu disse e também o que foi dito pela mãe que teve um filho que se matou.
É muito fácil imputar responsabilidades aos outros, o que é difícil é ver suas próprias responsabilidades.
Infelizmente ainda veremos muito a exploração desse assunto de forma sensacionalista.
Parabéns Vívian Werneck, fosse foi bem elucidativa nas linhas apresentadas.
Gonsalves-Ctba.
Querida Vivian,
ResponderExcluirComo é a 1ª vez que interajo no seu blog (haverá outras, então :? rs...), gostaria de fazer um comentário inicial.
Costumo me deparar com boas iniciativas, mas que acabam se tornando um desserviço por diversos motivos que não vem ao caso. Por isso, gostaria de parabenizá-la pela iniciativa, que felizmente é de muita qualidade, propriedade e que certamente gera excelentes frutos. Parabéns pelo blog e sucesso!
Sobre seu texto da matéria da Veja e o Santo Daime.
Acho que se trata de um caso, em si lamentável e sua repercussão e implicações ‘dão pano pra manga’, ou seja, são diversos pontos que podem ser discutidos, avaliados, repensados... Tratar da intolerância é crucial e em minha opinião você fez brilhantemente.
E eu gostaria de destacar outro ponto que apesar de sutil, acho que também é importante e pertinente.
Além da observação, tenho a experiência própria como base para afirmar que boa parte das pessoas procura as religiões por meio da dor, do sofrimento, desequilíbrio e tals...
As causas motivadoras destas pessoas especificamente falando, podem ser momentâneas ou não, ou seja, a dor pode estar ocorrendo por um fato específico e passageiro ou por algo crônico, constante na vida da pessoa e que dificilmente irá mudar (carma, característica, condição...).
Digo isso, por que cheguei à Umbanda fragilizada e desequilibrada e me relacionei com a Umbanda desequilibradamente. Eu não tinha como me relacionar com a Umbanda (ou com qualquer outra religião) de forma saudável, pois estava doente.
Hoje, me considero (um pouco) mais equilibrada e percebo como meu relacionamento com a religião também está mais saudável. E percebo também que a Umbanda me acolheu de uma forma e agora age de outra forma para comigo.
Gostaria de convidar à reflexão: o quê, quanto, para quem.
Quem atua para/em alguma religião, está lidando com pessoas, que além de pessoas (ser humano em si já é inconstante), estão (ou até são) carentes de diversas formas e intensidades de cuidados, assistência, respostas...
Se for verdade que “o que é bom para um pode não ser bom para o outro”, precisaríamos determinar o que é bom e o que não é? E para quem?
Se sim, quem determinaria o quê?
Desequilibrados, doloridos, fragilizados, que procuram desesperadamente por algo (muitas vezes qualquer coisa) que os ajude e alivie sua dor?
Líderes religiosos que são a manifestação das religiões?
Quem estaria em melhores condições para discernir, se é que existe algo para discernir?
Outro dia, ouvi um especialista em avião dizer, que ‘a causa’ de um desastre de avião é ‘um conjunto’ de fatores ocorrendo num mesmo momento. Se a ocorrência desses fatores tivesse sido isolada, certamente não chegariam a causar desastres fatais.
Porém, juntos ou separados, todos esses fatores impactam de alguma forma na segurança e bem estar da tripulação e passageiros.
O que eu quero dizer, é que independente de como ou quanto, é certo de que a religião (seita, comunidade...) impacta de alguma forma na vida dos seus praticantes, seguidores, simpatizantes.
E é só tudo isso...rs...
Mais uma vez, parabéns pela qualidade do blog, obrigada pela oportunidade e grande abraço fraterno. bJU!
Obrigada pelo apoio, pessoal!!! Continuem enviando comentários e e-mails para gente! Sem a participação de vocês nós não cresceremos em entendimento.
ResponderExcluirAnauê!!!
Vivian
Acho muito importante estes esclarecimentos,não suporto mais tanta intolerância religiosa o jovem Kadu éra usuario de varias drogas e tem um histórico familiar de problemas psiquiátricos,dão enfase só ao Santo Daime as vítimas Clauco e Raoni ficam em segundo plano como se fossem culpados!!!As pessoas torcem os fatos quando isso vai parar? Não vamos nos calar e deixar que injustiças acontessam!!!! Força e luz para todos....
ResponderExcluirParabéns Vívian,na Umbanda muitos tem que entender que a entidade pode usar a bebida em seu ponto, e não para medium beber, falta conhecimento tbm de nossa religião.
ResponderExcluirUmbanda é Umbanda e não podem ficar ligando as outras cresças..
Axé
Marcio
www.cazuadeumbanda.blogspot.com
foi com grande satisfação que eu participei da semana umbandista, foi com grande alegria que vi, tantos irmãos de fé, unidos pela mesma bandeira da umbanda, obrifgada pela oportunidade .
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