quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A EXPERIÊNCIA DA VERDADE 3/3

CONTO - Parte 03
A verdade
Então, começaram, Paula e Zeca a freqüentarem a Igreja Católica, na Paróquia de Santo Antônio, semanalmente. Uma, três, cinco semanas e nada. Paula não viu melhora alguma em Zeca, pelo menos não no comportamento, já que ela não podia perguntar nada a ele.
- Zeca, você parece que nem presta atenção nas pregações que o padre faz! Você precisa se empenhar, para poder ser ajudado.
-Ajudado, por quê? Eu não estou precisando de nada...
- Todos precisamos, foi isso que eu quis dizer... Não adianta virmos aqui toda semana se você não exerce a sua fé em plenitude.
Na mesma semana, Paula voltou ao Terreiro. Nem chamou a amiga, para não ter que dar explicações.
- Vovó Marica, eu fiz o que a senhora me pediu, mas não adiantou.
- Mais ocêis “tão” sendo bem cuidados. Vai na paz de Zambi, fia.
Desta vez Paula ficou confusa e até um pouco irritada. “Como estamos sendo cuidados se nada mudou!?! Tudo bem que da outra vez ela acertou no que disse, mas será que é isso mesmo? Se ela é um espírito tão bom ela não deveria me ajudar?” _ pensava Paula. Acordou cedo no outro dia com o telefone tocando:
- Flor... (só Zeca a chamava assim), quero te fazer um convite. O Júnior me chamou para participar de um culto na Igreja Evangélica. Vamos? Ele disse que é super animado e tem até uma banda de rock.
- Hum?!
- É isso mesmo, vamos? É hoje. Parece que estou até mais animado!
- Realmente, meu amor, parece que você está diferente... Mas se você quer assim, tudo bem, vamos sim.
À noite, na hora marcada, Zeca pegou Paula em casa e foram os dois à Primeira Igreja Evangélica da Bocaininha. Noite quente e corações exaltados de fé. O grupo era mesmo animado e parecia que as bonitas palavras do pastor tocavam Zeca em seu íntimo.
Paula observava tudo com a mesma curiosidade de quando foi ao Terreiro pela primeira vez. De tudo o que mais a agradou foi ver como Zeca parecia estar, repentina e estranhamente, melhor. Voltaram aos cultos durante 7 semanas. Até que, após um jantar na casa de Zeca, algo inédito aconteceu. Quando todos tomavam uma xícara de café na sala, Zeca cochilou no sofá e de repente acordou com uma voz estranha não parecendo ser ele. Mal dava para entender o que dizia. Todos acharam que era uma brincadeira, até seu Juvenal, o avó, se aproximar e perceber que era uma manifestação espiritual. Convencidos do ocorrido, Zeca e Paula foram ao Centro Espírita Caridade e Fraternidade, onde o avó do jovem trabalha em sessão mediúnica há anos. Assistiram palestras, estudaram a doutrina, e após um ano ainda estavam freqüentando as reuniões naquele lugar. A mediunidade manifestada em Zeca começou a ser equilibrada e preparada para os trabalhos espirituais. Paula acompanhava a tudo se sentindo muito feliz, pois numa sessão mediúnica teve a confirmação da cura da doença do rapaz, além de ser notável a melhora tanto dele como do relacionamento dos dois. Foram chamados, os dois, a participarem dos trabalhos mediúnicos.
- Mas, seu Pedro (o dirigente do Centro Espírita), eu só acompanho o Zeca, como posso ajudar nas sessões? _ indagou Paula.
- Você será os olhos da terra para ele, minha filha. A caminhada ainda é grande. Não relute, porque trabalhará como todos nós, em auxílio à seara do bem.
Passados uns meses, Zeca e Paula desenvolviam um lindo trabalho junto ao grupo de socorro espiritual daquela casa, quando uma mensagem psicografada foi direcionada à Zeca, pelas mãos de seu próprio avó e médium, Juvenal.
“Filho, por muitos caminhos permiti que percorresse, para que conhecesse a beleza de cada um deles, libertasse suas dores cármicas e aprendesse com a própria liberdade do seu espírito, mas hoje preciso de ti. Vovó Marica.”
Ao ler a mensagem Zeca não entendeu, porque ele não conhecia nenhuma Vovó Marica. “Será que é um parente desencarnado? Mas estaria precisando de mim para quê? _ pensava Zeca, enquanto Paula lia a mensagem.
Pois Paula conhecia a Vovó que assinava aquela mensagem... Havia se passado dois anos, desde a última visita ao Terreiro de Umbanda, mas ela não tinha se esquecido.
- Zeca, lembra que há um tempo lhe chamei para ir a um Terreiro de Umbanda?
- Lembro, por quê?
- Na época eu não te contei porque você andava muito nervoso e preocupado, mas eu fui até lá e uma preta-velha me deu conselhos, inclusive me dizendo para estar sempre perto de você.
- E o que tem isso agora? Nós estamos juntos, nos gostamos, não é? Não estou entendendo...
- É que o nome dela era Vovó Marica.
Um silencioso suspense pairou no ar. Zeca ficou muito confuso e procurou por seu avó. Contou-lhe a história e seu Juvenal, calmamente, lhe disse:
- Zeca, é claro que esta mensagem pode ser de uma preta-velha sim. Os pretos e pretas-velhas, como outros espíritos, também nos ajudam no desenvolvimento dos trabalhos no centro espírita e somos todos gratos a eles. Se ela disse que precisa de você, deve ser importante. Por que você não vai procurar a entidade que se apresenta com este nome no Terreiro onde a Paula foi? Esta é a melhor de maneira para que você esclareça todas suas dúvidas, inclusive com relação à Umbanda, que é uma religião que merece todo nosso respeito.
Pensando nos ensinamentos que havia recebido no centro, principalmente sobre humildade e fraternidade, Zeca aceitou ir ao terreiro. Paula se animou, porque tinha certeza que era mesmo a Vovó a autora daquela mensagem. No entanto ficou apreensiva, lembrando-se de que as vezes em que esteve lá a preta-velha não lhe havia dado nenhum esclarecimento. E isso irritaria Zeca... Pois bem, chegando ao Templo, Zeca simplesmente se maravilhou diante da beleza singela do lugar, que nem de longe se assemelhava à imagem negativa que possuía sobre terreiros. Na assistência Paula aguardava para ver se reconhecia, entre o grupo, a médium que trabalha com a Vovó Marica. Logo se desanimou, porque não a viu e pensou que a médium tivesse faltado à sessão.
- Olá, por favor, a médium que trabalha com a Vovó Marica não vai vir hoje? Eu gostaria de pegar a ficha para ser atendida por ela _ perguntou Paula à moça de roupa branca e guias no pescoço.
- Não, a médium não virá. Ela desencarnou há meses. Mas estamos todos muito felizes porque recebemos um aviso do Pai José, que é o guia-chefe do terreiro, de que hoje um homem virá aqui para iniciar seu trabalho mediúnico no terreiro, exatamente sendo intermediário da Vovó Marica.
O coração de Paula parecia que ia saltar pela boca. Como podia ser? Como ela ia dizer isto à Zeca? Não conseguiu pronunciar uma só palavra e disse apenas ao namorado que aguardasse. Zeca estava se sentindo muito bem e nem se incomodou. Foi se harmonizando com as vibrações da casa a cada ponto cantado. E sua cabeça só produzia um pensamento: “Que sensação boa. Como pude relutar tanto em vir aqui?”. Quando Pai José se apresentou na terra, saravou aos filhos do terreiro e chamou Zeca para dentro da corrente, olhando fixamente para ele e gesticulando com o cachimbo. Parecendo estar em estado de transe, Zeca se dirigiu ao centro do terreiro e num piscar de olhos estavam todos diante da Vovó Marica.
Mais atônita Paula ficou quando a própria Vovó a chamou e disse:
- Viu fia, num te disse que no futuro tinha felicidade certa procê? E vou repetir de novo o que te disse da primeira vez: essa velha aqui vai estar sempre com você. Brigada por tudo, fia. Ocê confiou e nóis pudemô cumpri o plano do Nosso Pai Maior. A partir de hoje ocêis dois são fios desse terreiro e vão escrevê a história do trabaio espiritual docêis na fumaça do cachimbo e no cheiro das ervas.
FIM

3 comentários:

  1. Nossa, comecei a ler e não consgui parar até terminar. Que texto lindo! Mexeu muito comigo. Faz a gente pensar em muita coisa. De quem é? É de algum livro?

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  2. Nossa, fiquei muito emocionada com a história. Nossa umbanda é linda demais.

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  3. Obrigado por esta história!

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